Friday, December 15, 2006
Cesario Verde
Cesário Verde
[Perfil Poético] * [O Livro de Cesário Verde]
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
Alberto Caeiro, O GUARDADOR DE REBANHOS, Poema III, in Obras de Fernando Pessoa, vol. I, Lello & Irmão - Editores, Porto, 1986
Uma das personalidades mais originais, mais renovadoras, da poesia portuguesa do séc. XIX. Nasceu em Lisboa em 1855, oriundo duma família burguesa abastada, e morreu no Lumiar , tuberculoso, em 1886. O pai era lavrador e comerciante (possuía uma quinta em Linda-a-Pastora e uma loja de ferragens na capital), e por estas duas formas de actividade prática se repartiu Cesário Verde, embora, marginalmente, satisfizesse o gosto da leitura e da criação poética. Chegou a frequentar por algum tempo o Curso Superior de Letras. É nesta época (1873) que, pela primeira vez, se publicam composições suas (no Diário de Notícias). Depois de 1875 a poesia de Cesário Verde começa a revelar notável maturidade; «Num Bairro Moderno» é de 1877, «Em Petiz» de 1878, segundo as datas indicadas pelo autor (foram publicados respectivamente em 78 e 79); «O Sentimento dum Ocidental» veio a lume em 1880. A crítica, porém, não o estimula, e Cesário Verde, durante quatro anos, deixa de publicar, entregando-se por inteiro à vida prática. Com efeito, só em 1884 publica o poema «Nós», todavia escrito em 1881-2; nele evoca a morte duma irmã (1872) e do irmão Joaquim Tomás (1882). Quando morreu, não reunira ainda em volume as suas poesias. Foi um amigo, Silva Pinto, quem editou em 1887 o Livro de Cesário Verde. E, embora Silva Pinto tenha declarado «Devo a Jorge Verde - o querido irmão do poeta - a oferta de todos os manuscritos. Entre estes está o plano do Livro; será fielmente executado, nas variantes e nas supressões, em tudo», parece mais provável que Silva Pinto tenha coligido dispersos e autógrafos e organizado o Livro à sua maneira, de acordo com a sua perspectiva crítica. E assim terá dividido o Livro em duas secções, «Crise romanesca» e «naturais», sem respeitar a ordem cronológica de elaboração ou de publicação.
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