Vindo ao encontro do comentário de um dos nossos leitores ao ler o "Menino Magoado" de MGabriela Carrascalão!
Como em Timor-Leste não neva, optei por colocar uma fotografia de um dia cheio de nevoeiro, em Ramelau ( Oh! se é frio , em dias de nevoeiro )
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
AUGUSTO GIL
(1873-1929)
Tuesday, June 05, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
Esta fotografia tras-me muitas lembranças, boas e más, de quando eu ainda pequena andava fugida no mato com a minha familia. Estive em montanhas, algumas um pouco frias, outras muito quentes, sempre descalça.
Tanto este poema, como da MGabriela toca-me profundamente porque também ja passei por isso, hojé felizmente estou bem, vivo no estrangeiro, tenho um emprego estável, tenho o meu filhote, que é a minha razão de viver, tenho alguns amigos, poucos mas muito bons. Infelizmente sei que há imensas crianças em Timor e no resto do mundo que não tem a mesma oportunidade que o meu filhote. Muitas vezes converso com o meu filhote sobre dramas de crianças pobres e alguns que não são pobres mas são mal tratadas pelos pais. Espero que um dia o meu filhote possa vir a ser alguém e contribuir para a melhoria de vida de algumas crianças.
Beijinhos a MG
MESTRE HAKOTU LIA BA-NIA ESKOLANTE
(A MASTER TO HIS DISCIPLE)
“Hetok ha’u hatene, hetok ha’u sinti ha’u seidauk hatene buat barak.”
KATUAS HO FERIK SIRA HATETE
Ha’u hakat, hiit an mai iha fatin ida ne’e
Hosi fatin ida ne’e duni maka ha’u sei hala’o ha’u-nia viajen naruk
Iha ne’e
Ha’u hamrik, hateke rai fehan
Iha ne’e
Ha’u hamrik, hateke foho oan
Iha ne’e
Ha’u hamrik, hateke foho lolon
Ha’u sei la’o, hakat liuhosi rai fehan
No ha’u sei la’o, hakat sa’e ba foho tutun
Ha’u sei la’o, husik hela ain leut lubuk
Molok ha’u atu la’o, no husik hela ó
Ha’u la husu buat barak,
Husu deit buat laek ida:
“Bainhira oras to’o ona ba ó atu hala’o ó-nia viajen rasik, no hakat
Hodi la’o tuir ha’u,
Keta buka koko atu sama tuir ha’u-nia ain leut,
Maibé
Ó tenke buka atu hamosu ó-nia ain leut rasik!”
---
Dili, 2007
Abe Barreto Soares
Post a Comment