Tuesday, February 06, 2007

Trova do vento que Passa - de Manuel Algre



Manuel Alegre é um dos meus poetas preferidos.

Tomei a liberdade de aqui incluir a biografia de Manuel Alegre assim como também o seu poema "
"trovas do vento que passa"
Biografia retirada da Enciclopédia Verbo na Internet

MANUEL ALEGRE. Poeta e político português nasceu em Águeda no ano de 1936. Como político, distinguiu-se na oposição ao regime salazarista e marcelista, tendo conhecido o exílio. Após 1974 foi governante e deputado socialista. A sua poesia combina a intenção política com uma dimensão lírica influenciada pela poesia trovadoresca e quinhentista. Para além do tom épico, tem também grande musicalidade, o que faz com que seja muito cantada. Obras principais: Praça da Canção (1965), O Canto e as Armas (1967), Atlântico (1981) e Com Que Pena, Vinte Poemas para Camões (1992).

Poemas de Manuel Alegre foram musicados e cantados desde a publicação do seu primeiro livro. Antes do 25 de Abril, foi musicado e /ou cantado pelos nomes mais representativos da canção de resistência, como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Manuel Freire, José Niza, mas também por grandes guitarristas de Coimbra, como António Portugal e António Bernardino. Alain Oulman musicou poemas seus para a voz de Amália Rodrigues. Gravou poemas acompanhado pela guitarra de Carlos Paredes. Posteriormente, está representado em Portugal nas vozes de João Braga, Paulo de Carvalho, Vitorino, Janita Salomé e muitos mais. No Brasil, foi musicado e cantado por Maria Bethânia e em Espanha pelo grupo galego “Fuxan os ventos”.

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«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

1 comment:

Anonymous said...

Amigo Maracujá e restantes!

Os Meninos do Huambo é um poema lindo que redundou numa linda canção, mas por isso tenho andado apreensivo.
Concretamente por causa de referir que também há meninos em Timor-Leste "com a barriga vazia"...
Se assim é, é preciso fazermos alguma coisa e eu estou ao dispôr para ajudar em tudo que possa contribuir para acabarmos com essa situação.
Se estiver de acordo, gostaria que os amigos se pronunciassem sobre este assunto tão sério e dessem ideias, alternativas, como poderemos ajudar?
Tem de haver uma solução para que isso não continue a acontecer!
Fico a aguardar sugestões mas o Maracujá sabe como contactar-me.

Abraço para todos!

Já agora deixo aqui um poema de amigo.
Poema simples de um poeta simples e muitas vezes injustiçado, como quase todos os poetas: Zeca Afonso.


TRAZ OUTRO AMIGO TAMBÉM

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte
todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

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Fiquem bem.