Thursday, January 18, 2007

Mensagem do Terceiro Mundo de Fernando Silvan










Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue

E esgravataste chagas no meu corpo

E me tiraste o mar do peixe e o sal do mar

E a água pura e a terra boa

E levantaste a cruz contra os meus deus

E me calasse nas palavras que eu pensava.

Não tenhas medo de confessar que te inventasse mau

Nas torturas em milhões de mim

E que me cavas só o chão que recusavas

E o fruto que te amargava

E o trabalho que não querias

E menos de metade do alfabeto.

Não tenhas medo de confessar o esforço

De silenciar os meus batuques

E de apagar as queimadas e as fogueiras

E desvendar os segredos e os mistérios

E destruir todos os meus jogos

E também os cantares dos meus avós.

Não tenhas medo, amigo, que te não odeio.

Foi essa a minha história e a tua história.

E eu sobrevivi

Para construir estradas e cidades a teu lado

E inventar fábricas e Ciência,

Que o mundo não pode ser feito só por ti.

(*) O poeta Fernando Silvan, nasceu em Díli em 1917, mas viveu a maior parte de sua vida em Portugal, onde veio a falecer, em 1993, na cidade de Cascais. Apesar da distância de sua terra natal, sua obra literária é expressão autêntica da cultura timorense.

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